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segunda-feira, 20 de junho de 2011

A cada 100 mortes, apenas oito terminam em denúncia do Ministério Público

18/06/2011 19:49

Homicídio esclarecido? No Brasil, nem sempre

A cada 100 mortes, apenas oito terminam em denúncia do Ministério Público

Reinaldo Chaves
Agência BOM DIA

O Mapa da Violência 2011, pesquisa  coordenada pelo governo federal e Instituto Sangari, mostra que a cada 100 mortes, apenas oito terminam em denúncia do Ministério Público.

Essa realidade terrível não é a mesma em todo o país. Em São Paulo, a Secretaria da Segurança Pública diz que 60% dos homicídios foram esclarecidos em 2010 – dos 1.196 casos registrados, 788 foram solucionados, de acordo com a pasta.

Segundo o BOM DIA apurou, a estrutura para  investigações de homicídios em São Paulo está acima da média no país, mas dentro do estado ainda é desigual.

A grande ilha de excelência de investigação de mortes é o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que foi criado em 1986 e conta hoje com cerca de 700 policiais civis.

Ele atua apenas na capital paulista e na Grande São Paulo. No Interior, apenas em casos que envolvam funcionários públicos. Foi o DHPP que criou o GEAcrim (Grupo Especializado em Assessoramento de Local de Crime), força policial que trabalha na rua e é especializada em atuar nas primeiras 48 horas após uma morte, período de  tempo considerado essencial para desvendar o caso.

Outras ações fortes do Departamento são também o cuidado especial com a investigação de tentativas de homicídios,  de chacinas e recentemente dos casos de resistências seguidas de mortes que envolvem policiais.

De acordo com a assessoria de imprensa da SSP (Secretaria de Segurança Pública), o modelo do DHPP  está implantado no Interior e cada seccional tem um setor de homicídio.

Mas o número de policiais disponíveis para investigar mortes não é o mesmo. Exemplos: em Guarulhos são 32, em Presidente Prudente, 12, e em Sorocaba, 11 . A explicação é que o número varia de acordo com a criminalidade e o número de habitantes.

A taxa de resolução de homicídios no Interior ficou entre 44,06% e 78,94% em 2010. Além dessa grande variação, há estruturas que só existem ainda na Capital e Grande São Paulo, como o serviço de perícia móvel e setores especializados em crimes como chacinas.

A SSP promete investir mais em segurança em 2011. O  orçamento deste ano é de R$ 11,9 bilhões, sendo que ano passado foi de  R$ 11,2 bilhões.

Outra reivindicação antiga é aumentar o salário dos delegados em São Paulo, um dos piores do país. O salário inicial varia entre R$ 5.810,30 e R$ 5.495,30. A promessa do governo do estado é divulgar uma proposta de reajuste no mês que vem.

Discordância
O cientista social Guaracy Mingardi diz que os números de São Paulo fogem da realidade. “Muitas vezes a polícia descobre que o ‘Zezinho’ matou alguém e considera como esclarecimento, sem informações ou provas que baseiem denúncia criminal”.

A SSP não informou em quantos suspeitos presos resultaram os esclarecimentos. Segundo a pasta, a polícia tem a qualificação completa dos autores de crimes solucionados. Mingardi analisou inquéritos de homicídios durante três anos em que trabalhou no Ministério Público e chegou à conclusão de que apenas 30% deles são resolvidos. (Com Thaís Nunes)

Cidadão pode cobrar investigações
Segundo a SSP, é um direito de qualquer pessoa que teve um familiar assassinado pedir diariamente na delegacia responsável informações sobre o andamento das investigações. As polícias de São Paulo também dispõe de uma ouvidoria para queixas e denúncias: 0800-177070 ou no site www.ouvidoria-policia.sp.gov.br.

Outra grande marca da impunidade no país são inquéritos sobre homicídios parados. A chamada Meta 2 da Enasp (Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública), articulada por vários órgãos ligados à segurança pública,  tem o objetivo de concluir todos os inquéritos sobre homicídios instaurados até 31 de dezembro de 2007 e ainda em aberto. Até maio, o Brasil tinha um total de 153.542 inquéritos parados e 1.366  no estado de São Paulo.  O prazo para conclusão dos inquéritos vai até julho de 2011, para os estados com até quatro mil procedimentos, e até dezembro de 2011, para os demais.

Dentro do objetivo de acelerar os inquéritos sobre homicídios, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público)  coordena as ações para agilizar a persecução penal dos crimes de homicídios, ou seja, o procedimento criminal brasileiro. O Ministério Público está fazendo sua parte,  procurando se pronunciar em todas ações penais de mortes que estão paradas.  O BOM DIA tentou contato durante toda a semana com os responsáveis pelo projeto no MP paulista, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. Só foi divulgado que os números de inquéritos caíram, de 1.423 em abril para 1.366 em maio.

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